sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

História Antiga


Recorda-se há já 2006 anos o nascimento de uma criança. O nascimento é sempre motivo de alegria e celebração, e com ele vem sempre a apologia da família. É importante a pessoa reposicionar-se nesta quadra naquilo que interessa, até por que vêm aí batalhas pela celebração do nascimento e da família, e é importante evitar a incoerência. Deixo um texto do Torga e os votos de um Santo Natal. Meu e dos rastos que arrasto.

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.

Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga
Antologia Poética, Coimbra, Ed. do Autor, 1981.

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